sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Fim do Mundo em 2030

O Fim do planeta? Relatório mostra que crédito ambiental do planeta se esgotará em 2030.

29/10/2008 - 18:48

Os recursos naturais entram em colapso a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos será o dobro do que a Terra pode oferecer.

O relatório Planeta Vivo 2008, publicação bianual da Rede WWF, mostra que, caso o modelo atual de consumo e degradação ambiental não seja superado, é possível que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos será o dobro do que a Terra pode oferecer.



Alguns países, como os EUA e a China, demandam mais que sua biocapacidade (aquilo que seus ecossistemas são capazes de oferecer), se caracterizando como “países devedores ecológicos”. Outros, como o Brasil, por exemplo, são “países credores ecológicos”, pois ainda possuem mais recursos ecológicos do que consomem, e usualmente “exportam” sua biocapacidade para os devedores.



“Assim como a bolha financeira mundial gerou a crise econômica atual, o consumo desenfreado dos recursos naturais disponíveis no planeta pode gerar uma nova crise. Temos que ficar atentos a isso”, alerta Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil. “O Brasil precisa ter consciência da importância de conservar seus ativos ecológicos e de engajar-se no desenvolvimento de modelos de negócios inovadores e baseados em uma gestão sustentável dos recursos naturais. Temos de começar agora a enfrentar o desafio de gerenciar responsavelmente o capital natural e, ao mesmo tempo, aumentar a qualidade de vida dos cidadãos.”



Esta é a sétima edição do estudo, que traz dois indicadores da saúde da Terra. Um deles é o Índice Planeta Vivo, que reflete o estado dos ecossistemas do planeta. Baseado nas populações mundiais de 1.686 espécies de vertebrados, como peixes, aves, répteis e mamíferos, esse indicador apresentou uma redução de quase 30% em apenas 35 anos.



Em algumas áreas temperadas, não houve redução nas populações. Em compensação, a redução de 60% na região tropical mostra a urgência de conservarmos os ecossistemas e seus serviços ecológicos.



O outro índice medido no relatório Planeta Vivo é a Pegada Ecológica, que evidencia a extensão e o tipo de demanda humana por recursos naturais e sua pressão sobre os ecossistemas. A média individual mundial é de 2,7 hectares globais por ano.



O índice recomendado no relatório para que a biocapacidade do planeta seja suficiente para garantir uma vida sustentável seria de 2,1 ha/ano por pessoa. No entanto, a média brasileira por pessoa já supera este patamar e está atualmente em 2,4 ha/ano.



“Para diminuir a Pegada Ecológica do País é importante que os consumidores adotem uma postura consciente ao realizar suas compras.



Também é fundamental que as empresas façam sua parte, pensando em processos de produção, embalagem e distribuição menos impactantes. Já os governos precisam prover infra-estrutura, estabelecer marcos regulatórios e incentivos para tornar viáveis ações sustentáveis”, exemplifica Irineu Tamaio, coordenador do programa de Educação para Sociedades Sustentáveis do WWF-Brasil.



Segundo Irineu Tamaio, os astronômicos níveis de consumo atuais em algumas sociedades só são possíveis porque há pessoas consumindo menos que o necessário para ter uma vida digna em outras. Os países com mais de um milhão de habitantes que tiveram maior Pegada Ecológica foram os Emirados Árabes Unidos, os EUA, o Kuwait, a Dinamarca e a Austrália.



Segundo o relatório, o Brasil ocupa o 58º lugar em termos de consumo entre os países com mais de um milhão de habitantes. Impedir o crescimento da Pegada Ecológica e principalmente estabelecer uma padrão consistente de redução dela é uma lição de casa para a sociedade brasileira.



O crescente desmatamento de florestas no Brasil e perda da biodiversidade exemplificam bem os riscos de aumento da Pegada em conseqüência de um modelo de desenvolvimento econômico tradicional.



É preciso zerar o desmatamento na Amazônia e utilizar de forma sustentável a floresta, melhorando a qualidade de vida das populações locais. Nesse contexto são diversas as estratégias a serem adotadas, como critérios socioambientais na produção agropecuária, melhor produtividade em áreas de uso extensivo, exploração manejada dos recursos florestais e criação e implementação de áreas protegidas, além de outras medidas.



Esse momento de crise mundial é uma oportunidade de atuar decisivamente nos três fatores responsáveis pela expansão da Pegada Ecológica: crescimento populacional, consumo per capita e intensidade e forma de uso dos recursos naturais.



As soluções para conter uma possível crise ambiental são diversas e muitas se complementam. Ente elas estão a diversificação da matriz elétrica, já proposta pelo WWF-Brasil no estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020, e o aumento dos investimentos em infra-estrutura sustentável, como a criação de modelos habitacionais baseados em um melhor uso de água, energia e solo.



Outra estratégia fundamental é incentivar os meios de transportes coletivos, tornando-os mais eficientes, menos poluentes e mais confortáveis, além de promover a conservação de áreas verdes em grandes centros urbanos.



“Não é mais possível ignorar os recursos naturais nos modelos de negócio praticados nas diferentes atividades econômicas. O capital natural é tão importante quanto o financeiro, o humano e o material envolvidos na produção de qualquer bem. Enquanto o custo de preservá-lo adequadamente não estiver incluído no preço dos produtos, estaremos caminhando rapidamente para exaurir o nosso crédito ecológico”, conclui Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação de Programas Temáticos do WWF-Brasil.



Demanda da humanidade supera capacidade do planeta



O relatório Planeta Vivo da Rede WWF é uma atualização periódica sobre o estado dos ecossistemas do mundo.



Uma vez a cada dois anos, ele descreve a mudança que ocorre na biodiversidade do planeta e a pressão exercida sobre os ecossistemas pelo consumo humano de recursos naturais.



O relatório está baseado em dois indicadores:



o Índice Planeta Vivo, que reflete a saúde dos ecossistemas do planeta; e a Pegada Ecológica, que mostra a extensão da demanda humana nos ecossistemas.



Esses índices são calculados ao longo de várias décadas para revelar tendências passadas. Seguem três cenários para descobrir o que o futuro nos reserva.



Os cenários mostram como as escolhas que fazemos podem levar a uma sociedade sustentável, vivendo em harmonia com ecossistemas robustos ou a um colapso desses ecossistemas, o que resultaria na perda permanente da biodiversidade e na erosão da capacidade do planeta de sustentar a população.





Consumo excessivo? Déficit ecológico? Entenda o que significa tudo isso



Significa que a grande maioria dos seres humanos está vivendo acima e além dos meios disponíveis no planeta.



A maior parte dos seres humanos vive em países que não são capazes de atender nossas demandas.



Por isso, alimentos são importados e a poluição e os problemas ambientais gerados são exportados.



Como se dá isso no dia-a-dia? Que impacto isso tem sobre nós?



Você pode ver alguns sinais sutis no supermercado que freqüenta.



Observe de onde vêm alguns tipos de alimento. A variedade crescente de nomes de países que você vê, agora, nos rótulos das embalagens dos alimentos é um indicador sutil de que nossas necessidades e desejos muitas vezes atravessam as fronteiras e vão a lugares longínquos.



Nossa necessidade de alimentos e de bens exóticos, frutas fora da estação, durante o ano inteiro, ou frango mais barato está ficando cada vez mais alta.



Onde leva esse consumo excessivo?



Tomemos a carne bovina como exemplo...

Nós gostamos dela. Em termos mundiais, comemos muita carne bovina.



Na realidade, nossa demanda por carne vermelha, e preferencialmente carne barata, provocou a derrubada das florestas tropicais e a irrigação das terras secas, como o Cerrado, para atender essa demanda.



Porém, transformar essas áreas em pastagem podem levar à degradação, pois elas só agüentam ser exploradas para este fim por um determinado tempo. Por isso as chamamos de “terras marginais”. Nossa demanda nos leva, então, a explorar novas áreas para pastagem e, por exemplo, colocar mais bois do que a terra é capaz de suportar a longo prazo.



Tais áreas eventualmente entram em "colapso" – ecologicamente falando. Isso significa que elas param de nos fornecer serviços ecológicos. São serviços como a capacidade de estabilizar o solo, manter sua fertilidade e reter a água, ou manter o equilíbrio entre as espécies silvestres.



Nossos padrões atuais de consumo significam o seguinte:



* precisaremos do equivalente a dois planetas até 2030 para nos sustentar;

* e se não encontrarmos esse segunda Terra logo (e qual é a probabilidade de que isso ocorra?!),

* então não estamos apenas demandando mais do que nosso planeta é capaz de produzir,

* mas estamos também reduzindo a quantidade de sua produção à medida que o estamos arruinando!



De que outra forma se pode ver e sentir os efeitos do nosso crescente déficit ecológico?

Depende de onde você vive. Mas é possível que você observe que...



* O tamanho da posta do seu peixe favorito em oferta no supermercado está ficando cada vez menor, e alguns peixes e frutos do mar, que eram abundantes no passado, agora são raros e caros, como é o caso do bacalhau e do atum.

* Você ouve mais estórias sobre eventos climáticos extremos (como furacões e enchentes). Ou sobre o aquecimento global. Em ambos os casos, trata-se de sintomas do gasto de energia, que é parte do nosso débito ecológico – assim como um espirro pode ser o sintoma de um resfriado, tudo está interligado.

* Novos relatórios sobre o “crescimento” de desertos surgem à medida que as áreas de pastagem avançam de forma excessiva e que a vegetação natural, que serve de cobertura protetora da terra, é removida.



Podemos ver indicativos crescentes do nosso déficit ecológico – mas essas mudanças são sutis e muitas vezes ocorrem lentamente, por isso nos sentimos imunes a elas e a seus efeitos.



Dependendo de onde se estiver no mundo, e de uma forma grave, alguns de nós poderão ver as reverberações do nosso déficit mais do que outros.



Nos lugares em que ocorrem eventos de recomposição do delicado equilíbrio ecológico, o efeito de nosso déficit será visto e sentido de forma mais aguda.



Então o fim está perto?



Claro que não.



Você pode ajudar, no dia-a-dia, a fazer do mundo um lugar onde todos possam crescer e viver, usufruindo uma parte justa dos recursos do planeta e, ao mesmo tempo, deixar espaços desabitados e com vida silvestre.



Viver dentro do que nossos meios permitem é uma decisão acertada. Não se trata de passar privações, mas sim de adotar um consumo responsável.



Ainda há tempo e existem muitas maneiras simples de se ter um impacto positivo na redução do nosso déficit ecológico...



É ruim importar alimentos?



É e não é.



Não é, porque muitas vezes o cultivo em climas mais quentes pode exigir menos da terra (por exemplo, cultivar tomates na Espanha em vez de numa estufa na Dinamarca); e a energia gasta e o CO2 produzido no transporte podem ser compensados com o plantio de árvores. Certamente podemos pagar um pouco mais – alguns centavos – desde que distribuído por vários produtos, o custo adicional para nós, consumidores, será desprezível. Deve ser encarado como um componente do preço de custo, tal como a embalagem e o transporte.



Não é, porque é maravilhoso o fato de que nossa demanda seja capaz de criar empregos em outras partes do mundo. Mas precisamos fazer com que o alimento cultivado seja produzido de forma sustentável; e que as pessoas envolvidas recebam salário justo e sejam bem tratadas.



É, sim, porque muitas vezes a energia gasta para fazer com que esses alimentos cheguem até as lojas e prateleiras perto de nós é maior do que a energia que recebemos desses alimentos (do ponto de vista da nutrição).



É, sim, porque muitas vezes esses alimentos são cultivados com substituição de vegetação natural por lavouras, ou precisam de irrigação trazida de rios que podem já estar sofrendo uma pressão excessiva em climas secos, ou então esses alimentos estão encharcados de produtos químicos poderosos, usados em quantidades e proporções irresponsáveis, ou são produzidos às custas das pessoas, que são mal pagas e/ou mal tratadas.



Como reduzir nosso déficit ecológico...



É fácil... Nosso único planeta não precisa de gestos enormes ou magnânimos.



Não exige que você doe cada centavo que lhe sobra para uma causa justa.



Tampouco requer que você faça grandes sacrifícios ou se curve no altar do meio ambiente.



Ele precisa apenas de pequeninos gestos seus.



São pequenas ações.



Ações diárias.



O que você compra, onde compra, como age, o que você pergunta.



Não é preciso usar apenas chinelos nem deixar o cabelo crescer.



Entre os impactos diários positivos que você pode ter, um dos maiores será obtido simplesmente pelo ato de procurar, nos alimentos e outros bens de consumo, os rótulos para ver se eles ostentam ou não selos de certificação confiáveis.



E se você não consegue ver um desses selos, pergunte ao lojista ou atendente.



Você pode ficar surpreso, mas uma simples pergunta ao lojista sobre os produtos oferecidos no estabelecimento, para saber se este ou aquele produto é produzido de forma responsável, começa a criar a percepção de uma demanda nesse sentido.



E você sabe o que as maiores e mais influentes empresas mundiais adoram fazer? (As mesmas empresas capazes de ter impactos ENORMES sobre o meio ambiente e sobre nosso déficit ecológico.)



Elas adoram satisfazer nossas demandas... Porque elas querem que a gente compre os seus produtos.



Assim, mesmo que sua solicitação seja apenas um sussurro no mercado global – e à medida que um número cada vez maior de pessoas age como você – sua voz e as nossas vozes, juntas, produzirão um murmúrio. Uma corrente subjacente. Uma tendência.



E essas empresas não são bobas – elas estão constantemente à procura de maneiras de nos satisfazer – elas estão em busca de novas tendências – e eventualmente elas irão nos ouvir.



O que são selos confiáveis?



Honestamente, isso depende de onde você vive.



Um selo confiável e de boa reputação que pode ser encontrado em muitos países é o Fairtrade (comércio justo).



Existem outros dois selos mundiais que buscam reduzir a destruição das florestas e oceanos.



* Um deles é o selo FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal), disponível no Brasil e presente em muitos produtos florestais como artigos em madeira e até mesmo papel.

* Outro, ainda não disponível no Brasil, mas bem presente na Europa, é o MSC (Marine Stewardship Council).



Mas isso é suficiente? Basta eu comprar “bons” produtos?



É um começo.



E um ótimo começo...



É claro que sempre existem outras coisas que você pode fazer.



Mas existe um velho ditado que diz: de grão em grão, a galinha enche o papo.O que você faz ao procurar e perguntar sobre os selos “bons” equivale a cuidar de cada grão.